Manuel de Azevedo Fortes
(1660-1749)

Manuel de Azevedo Fortes

Manuel de Azevedo Fortes, por Pierre-Antoine Quillard, c. 1727, Palácio Nacional de Mafra

Nota biobibliográfica do Dicionário Bibliográfico Português

MANUEL DE AZEVEDO FORTES, Cavalleiro da Ordem de Christo, Sargento-mór de batalha, e Engenheiro-mór do reino; Academico da Academia Real de Historia, etc. — N. em Lisboa no anno de 1660; e fez os seus estudos nas Universidades de Hespanha e França, onde adquiriu amplos conhecimentos não só nas sciencias exactas e naturaes, mas até na theologia. M. a 28 de Março de 1749. — Para a sua biographia vej. o Elogio historico, por José Gomes da Cruz. — E

182) (C) Representação a Sua Magestade sobre a fórma e direcção que devem ter os engenheiros, para melhor servirem n'este reino e suas conquistas. Lisboa, por Mathias Pereira da Silva & João Antunes Pedroso 1720. 4.º.

183) (C) Tratado do modo o mais facil e o mais exacto de fazer as cartas geographicas, assim da terra como do mar, e tirar as plantas das praças, cidades e edificios com instrumentos, e sem instrumentos. Lisboa, por Paschoal da Silva 1722. 8.º de XXXII-200 pag. com septe estampas. — N'este livro extractou as regras de Deschales e Ozanam, e serviu-se egualmente das duas obras Engenheiro francez moderno, e Methodo de levantar as plantas; não fazendo escrupulo de copiar este ultimo á letra, quando assim lhe pareceu conveniente: o que elle proprio confessa no seu proemio, para não ser taxado de plagiario, etc.

184) (C) O Engenheiro portuguez, dividido em dous tratados. Tomo I, que comprehende a geometria pratica sobre o papel, e sobre o terreno: o uso dos instrumentos; o modo de desenhar e dar aguadas nas plantas militares: e no appendice a trigonometria rectilinea. Lisboa, por Manuel Fernandes da Costa 1728. 4.º de LXII-537 pag. com onze estampas e o retrato do auctor.

Tomo II. Que comprehende a fortificação regular e irregular, o ataque e defensa das praças; e no appendice o uso das armas de guerra. Ibi, pelo mesmo 1729. 4.º de XII-492 pag., com um frontispicio gravado, e vinte e duas estampas.

Obra magistral, bem escripta e coordenada, e que formava um tractado de fortificação e de ataque e defensa de praças, tão completo como os melhores que até áquelle tempo se haviam publicado nos paizes mais cultos da Europa. Estes livros, juntamente com a Logica racional, serviram por muitos annos de instrucção e premio aos discipulos que mais se distinguiam na eschola militar da engenharia: e essa circumstancia serve para explicar o motivo de apparecerem ainda muitos exemplares enquadernados com apuro notavel, e até as vezes com luxo.

185) (C) Oração academica, pronunciada na presença de Suas Magestades, indo a Academia ao paço em 22 de Outubro de 1739. Sem indicação de logar, anno, etc. 4.º.

186) (C) Logica racional, geometrica e analytica: obra utilissima e absolutamente necessaria para entrar em qualquer sciencia, e ainda para todos os homens, que em particular quizerem fazer uso do seu entendimento. Lisboa, por José Antonio Plates 1744. Fol. de XXXVI-151-270-224 pag., com o retrato do infante D. Antonio a quem foi dedicada.

Conservo d'este livro um bello exemplar enquadernado em marroquim, e dourado, pelo qual dei, se bem me lembro, 720 réis.

187) (C) Breve discurso sobre o segredo do famoso medico Mr. de Revel, de uns pós sympathicos que excitam o suor. Lisboa, por Miguel Rodrigues 1729. 8.º É o titulo dado por Barbosa, e pelo pseudo-Catalogo da Acad., mas que em verdade faz differença do que se encontra no rosto do opusculo descripto, que é tal como o dei no Diccionario tomo I, n.º A, 993, sob o nome de Antonio Lopes de Lima, a quem egualmente se attribue tal composição.

188) (C) Evidencia apologetica e critica sobre o primeiro e segundo tomo das «Memorias militares», pelos praticantes da Academia militar d'esta côrte. Lisboa, por Miguel Rodrigues 1733. 4.º de XXIV-271 pag. — Sem o nome do auctor. (V. no Diccionario tomo II, o n.º E, 161.)

Farinha no Summario da Bibl. Lus. copia menos exactamente o titulo d'esta obra, que diz versar sobre o Engenheiro portuguez: assersão que o proprio titulo convence para logo de falsa.

Na Collecção dos Docum. e Mem. da Acad. R. de Hist. nos tomos IV e V vém duas Contas dos seus estudos, etc.

II

MANUEL DE AZEVEDO FORTES.

O Engenheiro portuguez (n.° 184) tem alcançado varios preços nos mercados. No leilão de Innocencio foi arrematado por 900 réis. Em geral, o preço no mercado regula entre 800 e 900 réis.

A proposito da obra Breve discurso (n º 187), nota-se que os Pós sympathicos não tiveram só voga em Portugal. Vieram transplantados de França, onde no começo do seculo XVIII gosaram de grande credito. Veja-se no Esprit de l'encyclopédie o artigo Poudre sympathique.

Recortes

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Bibliografia geral

Bernardo, Luís Manuel A. V., O Projecto Cultural de Manuel de Azevedo Fortes. Um Caso de Recepção do Cartesianismo na Ilustração Portuguesa, LIsboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005

Conde, Antónia Fialho; Diogo, Maria Paula, "Luís Serrão Pimentel, Manuel de Azevedo Fortes: a construção da engenharia militar portuguesa", in Ana Simões, Marta C. Lourenço, José Alberto Silva (ed.), Ciência, Tecnologia e Medicina na Construção de Portugal. Razão e Progresso. Séc. XVIII, Edições Tinta-da-China, Lisboa, 2021, pp. 125-146

Fernandes, Mário Gonçalves (ed.), Manoel de Azevedo Fortes (1660-1749). Cartografia, Cultura e Urbanismo, Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 2006

Ribeiro, Dulcyene Maria, "Os Manuscritos de Manoel de Azevedo Fortes (1660-1749) e o Discurso Científico no Reino Português na Passagem do Século XVII para o Século XVIII", Acta Scientiae, 20(4), 2018 🡭

Rodrigues, Luís Alexandre, "O Engenheiro-mor do reino Manuel de Azevedo Fortes", Brigantia, 17(3-4), 1997, pp. 15-45