Francisco de Holanda
(1517-1585)

Francisco de Holanda

Francisco de Holanda, auto-retrato, 1573, Biblioteca Nacional de España

Nota biobibliográfica do Dicionário Bibliográfico Português

FRANCISCO DE HOLLANDA, Illuminador, Architecto Pintor, e escriptor, filho de Antonio de Hollanda, nascido em Lisboa em 1518, e falecido (segundo as investigaeões do sr. Visconde de Jerumenha, que destroem por modo authentico é irrecusavel as conjecturas tradicionaes a que se refere J. da Cunha Taborda. quando suppõe que elle morrêra na era de 1574) precisamente a 19 de Junho de 1584. — Vej. a seu respeito o dito Taborda, nas Regras da Arte da Pintura, 1815, pag. 176 a 183, Volkmar Machado na Collecção de Memorias etc. 1823 pag. 61 a 64, o sr. abbade Castro na Vida de Francisco de Hollanda, 1844; e ultimamente o sr. conde A. Raczynski, tanto na obra Les Arts en Portuqal, 1846, de pag. 4 a 77 como no Dictionn. Historico-Artistique de Portugal, 1847, pag. 136 a 157, além de outros auctores ahi mesmo citados. Monsenhor Ferreira Gordo nas suas Memorias manuscriptas, a que já tive occasião de alludir (Vej. no tomo I pag. 272 in fin.), traz a pag,. 15 v. algumas especies approveitaveis no que diz respeito a Francisco de Hollanda. E tambem na outra Memoria, que sahiu no tomo III das de Litt. Portug., publicdas pela Academia Real das Sciencias, pag. 42 a 44.

Na livraria da mesma Academia existem copias das duas notaveis obras de Francisco de Hollanda, que se intitulam 1.ª Da Pintura antiga, 1549, (em que se incluem Dialogos de tirar pelo natural) — 2.ª Fabrica que falece á cidade de Lisboa, 1571.

A nossa incuravel negligencia, e proverbial desamor pelas cousas patrias tem feito com que estes importantes e curiosissimos manuscriptos se conservem ainda ineditos, e no risco imminente de levarem a mesma sorte que tantos outros padeceram. Pouco menos que ignorada do publico a sua existencia, foi mister que um illustre e esclarecido estrangeiro, o sr. conde Raczynski, viesse como que desenterrar do pó do esquecimento estes monumentos nacionaes, para nol-os dar traduzidos em francez na sua interessante obra Les Arts en Portugal, onde occupam de pag. 5 até 73! Não foram porém publicados na integra; e sim por extracto, transcurando o traductor o que houve por menos necessario ao seu intento. Seria portanto para desejar que, embora tarde, procurassemos reparar tão imperdoavel descuido, vulgarisando por meio da impressão aquellas obras dignissimas, na lingua original, e taes quaes seu auctor as escreveu.

II

FRANCISCO DE HOLLANDA

Por um anachronismo dos que mal podem explicar-se, diz o P. João Baptista de Castro no tomo I, pag. 140 do seu Mappa de Portugal (edição de 1745), que Francisco de Hollanda fora por el-rei D. Manuel encarregado de fazer o risco ou desenho para um chafariz, que se tencionava construir no Rocio. Ora, sendo o artista nascido em 1518, no que todos concordam, deveria ter á morte de D. Manuel, occorrida em Dezembro de 1521, de tres até quatro annos de edade! A conclusão é facil de tirar.

Este erro já foi notado pelo sr. Abbade de Castro, no seu Resumo historico da vida de Francisco de Hollanda, que muito augmentado e correcto sobre o primeiro opusculo que do assumpto publicou em 1844, foi por elle recitado na Associação dos Architectos civis portuguezes em 21 de Julho de 1868, e sahiu depois inserto no Archivo de Architectura civil, jornal da mesma Associação, n.º 10, columnas 163 a 167. O mesmo illustre auctor fez depois reimprimir o dito Resumo em opusculo separado; acontece porém n'essa impressão que, por um d'esses transtornos inevitaveis, a que estão subjeitos os trabalhos typographicos, ainda os mais perfeitos e executados nas imprensas mais bem servidas, se deixasse escapar a pag. 9 linha 18, um erro, aliás visivel, dando-se ahi 1581 (em vez de 1518) como data do nascimento de Francisco de Hollanda! E dizendo-se em seguida que elle tinha tres annos de edade, quando no anno de 1521 faleceu o sr. rei D. Manuel!

Da obra manuscripta de Francisco de Hollanda ácerca da Pintura antiga, existente na Academia Real das Sciencias, foram de quatro ou cinco annos a esta parte extrahidas não menos de duas ou tres copias, para satisfazer instantes sollicitações de litteratos da Allemanha que desejavam possuil-as.

Recortes

-

Bibliografia geral

A bibliografia sobre Francisco de Holanda é vastíssima e aqui é indicado apenas um reduzido número de volumes gerais ou abrangentes, com especial foco nos que estão disponíveis na internet com acesso livre. Numerosas publicações de Sylvie Deswarte-Rosa, das quais aqui apenas estão referidas algumas, estão disponíveis em https://cnrs.academia.edu/SylvieDeswarteRosa.

Alves, José da Felicidade, Introdução ao Estudo da Obra de Francisco d'Holanda, Lisboa, Livros Horizonte, 1986

Deswarte, Sylvie, "Francisco de Holanda, teórico entre o renascimento e o maneirismo", in Vítor Serrão (ed.), História da Arte em Portugal. Volume 7. O Maneirismo, Lisboa, Publicações Alfa, 1986, pp. 11-29 🡭

Deswarte, Sylvie, "Francisco de Holanda ou le diable vêtu à l'italienne", in Les Traités d'Architecture de la Renaissance, Paris, Picard, 1988 🡭

Deswarte-Rosa, Sylvie, "L'essence et les sens: Francisco de Holanda", in Portugal et Flandre. Visions de L'Europe (1550-1680), Bruxelles, Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique, 1991, pp. 158-170 🡭

Deswarte, Sylvie, Ideias e Imagens em Portugal na Época dos Descobrimentos. Francisco de Holanda e a Teoria da Arte, Lisboa, Difel, 1992

Deswarte-Rosa, Sylvie, "Francisco de Holanda: Maniera e Idea", in Vítor Serrão (ed.), A Pintura Maneirista em Portugal. Arte no Tempo de Camões, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1995, pp. 58-89 🡭

Deswarte-Rosa, Sylvie, "Par-dessus l'épaule de l'artiste... Les livres annotés de Francisco de Holanda", in Biographies, Lisboa-Paris, Centro Cultural Calouste Gulbenkian, 2000, pp. 231-264 🡭

Deswarte-Rosa, Sylvie, "Francisco de Holanda entre théorie et collection : "Tudo o que se faz em este mundo é desenhar"", in M. J. Redondo (ed.), El Modelo Italiano en las Artes Plásticas de la Peninsula Ibérica Durante o Renacimiento, Valladolid, Universidad de Valladolid, 2004, pp. 247-290 🡭

Deswarte-Rosa, Sylvie, "Do Tirar polo Natural (1549) de Francisco de Holanda", in Anísio Franco (ed.), Do Tirar Polo Natural – Inquérito ao Retrato Português, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2018, pp. 18-35 🡭

Fonseca, Raphael, "Francisco de Holanda: uma revisão historiográfica", Revista de História da Arte e Arqueologia, 15, 2011, pp. 29-50 🡭

Ganho, Maria de Lourdes Sirgado, O Essencial Sobre Francisco de Holanda, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006 🡭

Lousa, Maria Teresa Viana, Francisco de Holanda e a Ascensão do Pintor, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2013 🡭

Pereira, Fernando António Baptista, "O pintor ha-de nascer já pintor. «Por onde deve aprender o pintor» segundo francisco de holanda", in Luísa Arruda, Fernando António Baptista Pereira (ed.), Desenho. História e Ensino, Lisboa, Scribe, 2016, pp. 10-31 🡭

Reis, António Matos, "Francisco de Holanda. Introdução ao estudo da sua obra", Revista de Guimarães, 94, 1984, pp. 209-248 🡭

Santos, Rogéria Olimpio dos, O Álbum das Antigualhas de Francisco de Holanda, Juiz de Fora, Universidade Federal de Juiz de Fora, 2015 🡭

Segurado, Jorge, Francisco d'Ollanda, Lisboa, Excelsia, 1970

Serrão, Vítor, "Um Hóspede Ilustre na Santarém Renascentista: Francisco de Holanda (1547-1549)", Mátria XXI, N.º especial, 2021, pp. 385-448 🡭

Sidoncha, Idalina Maia, A Reflexão Estética em Francisco de Holanda. Esboço de uma Metafísica da Ideia, Covilhã, Universidade da Beira Interior, 2019 🡭

Vilela, José Stichini, Francisco de Holanda — Vida, pensamento e Obra, Lisboa, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1982 🡭