Vieira Lusitano
(1699-1783)

Vieira Lusitano

Vieira Lusitano, auto-retrato, c. 1774, cópia por Joaquim Manuel da Rocha

Nota biobibliográfica do Dicionário Bibliográfico Português

FRANCISCO VIEIRA LUSITANO, Cavalleiro professo na Ordem de S. Tiago da Espada, Pintor historico da Casa Real, Academico de merito da Academia de S. Lucas em Roma, onde estudou a pintura como discipulo de Trevisani. — N. em Lisboa a 4 de Outubro de 1699, e m. no sitio do Beato Antonio a 13 de Agosto de 1783, sendo o seu cadaver sepultado na egreja do convento de Xabregas. Deixou primorosos monumentos da sua arte, que ainda se conservam, além de outros em maior numero, que foram destruidos pelo terremoto de 1755. — Para a sua biographia vej. as Regras da Pintura etc., de Taborda, pag. 230 a 235; as Memorias das vidas dos pintores por Cyrillo, pag. 99 a 104, o Dictionn. Hist. Artistique da Portugal pelo sr. C. de Raczynski pag. 296 a 299 (artigo na maior parte traduzido litteralmente do de Cyrillo); a Mnemosyne Lusitana (1817) tomo II, n.º 3; etc., etc. — E.

1911) O insigne pintor e leal esposo Vieira Lusitano. Historia verdadeira que elle escreve em cantos lyricos. Lisboa, na Offic. Patriarchal de Francisco Luis Ameno 1780. 8.º de VIII-623 pag., tendo no frontispicio uma gravura com os retratos do auctor e de sua esposa. O esboceto original, que parece serviu para esta gravura, existe hoje perfeitamente bem conservado em poder do sr. Figaniere (1).

Consta o livro de treze chamados cantos, escriptos no gosto dos nossos antigos romances do seculo XVII, isto é, em quadras octosyllabas rimadas em toantes. N'elles relata o auctor com miudeza os successos da sua vida, o seu casamento, etc.: seguem-se como appendice mais quatro cantos, nos quaes descreve as insidias que os parentes de sua mulher tramaram contra elle, pretendendo assassinal-o. E posto que, como diz um nosso critico, esta obra considerada na qualidade de poema prova sómente que se póde ser mui fervoroso amante, sem ter o menor vislumbre de genio poetico, todavia não deixa de offerecer tal qual interesse, pelo menos aos amadores da arte; pois contém narrados com singela individuação, e com a maior fidelidade os progressos do auctor na pintura, e a descripção das differentes obras por elle executadas.

(1) O sr. Figaniere adquiriu ultimamente um exemplar da mui rara gravura aberta por Gaspar Froes Machado, sobre o desenho, ou esboceto original de Vieira, de que falo n'este artigo. O formato é algum tanto maior que o da estampa que acompanha o livro O insigne Pintor, etc., e a execução artistica é incomparavelmente superior á da dita estampa, na verdade bem grosseira.

II

FRANCISCO VIEIRA JUNIOR ou FRANCISCO VIEIRA PORTUENSE.

Das noticias biographicas d'este artista, citadas no artigo a que ora me refiro, se extrahiu, segundo creio, outra ainda mais resumida noticia, que appareceu na Revista popular, tomo I (1849) n.os 11 e 12.

O sr. Visconde de Juromenha na sua novissima edição das Obras de Luis de Camões, tomo I, pag. 123 e 124, alludindo aos esboços executados por Vieira Portuense para a edição dos Lusiadas intentada por D. Rodrigo de Sousa Coutinho e que deviam ser gravados por Bartholozzi (esboços que hoje pertencem á casa dos Duques de Palmella, e estiveram patentes na sala da risco do Arsenal da Marinha nas exposições philanthropicas de 1851 e 1858) por uma equivocação, que mal sei como possa explicar-se, confundiu o Vieira Portuense com o Vieira Lusitano, attribuindo aquelle a auto-biographia em verso, que este publicou com o titulo O insigne pintor e leal esposo, etc. (n.º 1911).

Pela minha parte, desejando tornar tão conhecida quanto me fosse possivel a vida e acções d'este nosso insigne artista, e servindo-me além do que já existia impresso a seu respeito, de varios documentos ineditos, que obsequiosamente me foram fornecidos do Porto pelo finado commendador Joaquim Torquato Alvares Ribeiro, e de outras investigações, escrevi novos e mais amplos apontamentos biographicos, que sahiram acompanhados do retrato, no Archivo pittoresco, tomo VIII (1865), a pag. 45, 50 e 66. — Ahi se apurou entre outros pontos, a data certa do obito, que foi a 2 de Maio de 1806.

O Discurso feito na Academia de desenho e pintura (n.º 1912) foi impresso em Lisboa, na Regia Offic. Typographica 1803. 4.º de 11 pag. — Ao meu amigo e constante favorecedor do Diccionario, o sr. Francisco Pereira de Almeida, devo o exemplar que possuo d'este opusculo, do qual não resta no Porto conhecimento ou memoria de especie alguma, segundo me communicou em tempo o sobredito Alvares Ribeiro.

Recortes

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Bibliografia geral

Arruda, Luísa, Francisco Vieira Lusitano (1699-1783). Uma época de Desenho, dissertação de doutoramento, Lisboa, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2000 🡭

Saldanha, Nuno, "Vieira Lusitano (1699-1783)", in Artistas, Imagens e Ideias na Pintura do Século XVIII. Estudos de Iconografia, Prática e Teoria Artística, Lisboa, Livros Horizonte, 1995, pp. 47-79