Joaquim de Vasconcelos
(1849-1936)

Joaquim de Vasconcelos

Joaquim de Vasconcelos, revista Ilustração Moderna, 1894

Nota biobibliográfica do Dicionário Bibliográfico Português

JOAQUIM DE VASCONCELLOS, ou JOAQUIM ANTONIO DA FONSECA E VASCONCELLOS, filho de José Antonio da Fonseca e Vasconcellos, que era negociante e consul geral da Toscana e de D. Rita Maria de Freitas. Nasceu no Porto a 10 de fevereiro de 1849. Orphão em tenros annos, começou a sua educação em varios eslabelecimentos d'aquella cidade, até que em 1859 a familia o mandou para Hamburgo, onde esteve no collegio de Fischer e Harms até agosto de 1865. N'uma carta particular, inedita, do sr. Vasconcellos, leio: «Fischer e Harms eram homens de muita instrucção e saber. No seu magnifico collegio (especie de lyceu particular) aprendi tudo o que sei, e de lá trouxe para aqui as mais gratas recordações, e alguma instrucção, adquirida com gosto e vontade. Foi tambem em Hamburgo que começaram os meus estados artisticos em 1862; os estudos de canto e solfejo anteriormente». Saíndo de Hamburgo, visitou a maior parte da Allemanha, Dinamarca, França e Inglaterra, e regressou a Portugal em 1865. N'esse mesmo anno dirigiu-se a Coimbra, onde estudou preparatorios com o intuito de se matricular nos estudos superiores da universidade, do que desistiu em 1869 para voltar novamente á Allemanha, mas a guerra franco-prussiana obstou a isso. No entretanto, o sr. Vasconcellos continuava os seus estudos artisticos, para os quaes, confessa elle, «sentia uma inclinação, a que não podia resistir», e reunia os elementos para a sua obra.

7682) Os musicos portuguezes. Biographia-bibliographia. Porto, na imp. Portugueza, 1870. 8.º gr. Tomo I com XXXVI-289 pag.; tomo II com 308 pag. e mais 2 innumeradas de erratas e 4 de documentos historicos, sendo 3 desdobraveis. — Esta obra deu origem a extensas analyses, mais ou menos apaixonadas, em que entraram diversos escriptores conhecidos. Ouvi que o auctor pensava em corrigir e refundir este seu valioso trabalho, completando-o e aperfeiçoando-o. V. no artigo Joaquim Antonio de Sousa Telles de Matos, n'este tomo, o n.° 6824.

Tem mais:

7683) O Faust de Goethe e a traducção de Castilho. Porto, 1872. 8.º de XII-594 pag. e uma tabella.

7684) O consummado germanista (vulgo o sr. José Gomes Monteiro) e o mercado das letras portuguezas, etc. Ibi, 1873. 8.º de XIV-209-VIII pag. e mais uma de errata.

7685) O Fausto de Castilho julgado pelo «Elogio mutuo». Artigos colleccionados e glossados. Ibi, 1873. 8.º de VII-71 pag. e mais 4 innumeradas.

A respeito d'esta questão, que veiu da versão que o visconde de Castilho fizera do Fausto, de Goethe, podem ver-se, alem de numerosos artigos, de que não é facil dar a indicação completa, os seguintes:

1. Os criticos do Fausto do sr. visconde de Castilho, por José Gomes Monteiro. Porto, 1873. 8.º de 190 pag. e mais 1 innumerada.

2. Lição a um litterato a proposito do Fausto. (V. no artigo de João Augusto da Graça Barreto, tomo X, pag. 164, n.º 5456.)

3. Sciencia e probidade, a proposito das pasquinadas do sr. José Gomes Monteiro & C.ª, por F. Adolpho Coelho. Porto, 1873. 8.º de 88 pag.

4. A imparcialidade critica do sr. Joaquim de Vasconcellos, etc. (V. o artigo Joaquim Antonio de Sousa Telles de Matos, n'este tomo, pag. 14, n.° 6825.)

5. A questão do Fausto pela ultima vez. (V. o artigo de J. A. da Graça Barreto, citado, n.º 5457.)

Foram annunciados outros trabalhos em separado, mas creio que não appareceram. O proprio sr. Joaquim de Vasconcellos annunciára mais um opusculo — O Fausto de Castilho julgado pela critica estrangeira, que, por circumstancias que desconheço, tambem não deu ao prélo.

7686) Eurico. Analyse. Porto, 1871. 8.º de 47 pag. — Creio que foi impresso este opusculo só para brindes.

7687) Reforma do ensino de bellas artes.

Parte I. Analyse do relatorio e projectos da commissão official nomeada em novembro de 1875. Porto, na imp. Internacional 1877. 8.º de VII-71 pag.

Parte II. Analyse da segunda parte (actas) do relatorio. Ibi, na mesma typ., 1878. 8.º de XIII-28 pag.

Parte III. Reforma do ensino do desenho, seguida de um plano geral de organisação das escolas e collecções do ensino artistico, com os respectivos orçamentos. Ibi, na mesma typ., 1879. 8.º de XXVII-219 pag. e mais 2 innumeradas.

Parte IV. Historia das academias de bellas artes de Lisboa e Porto (e da sociedade promotora de bellas artes). Ensaio historico, critico e economico por documentos officiaes. — Esta parte ainda não tinha saído ao escreverem-se estas linhas.

Sob o titulo generico de Archeologia artistica tem o sr. Vasconcellos publicado uma serie de interessantes estudos historicos, archeologicos e artisticos, em fasciculos nitidamente impressos em papel de linho, e de tiragem limitada, sendo os exemplares numerados de n.º 1 a 250. Depois do n.º 4 passou a ser de 100 exemplares. N'esta serie são do sr. Vasconcellos os seguintes fasciculos:

7688) Luiza Todi. Porto, na imp. Portugueza, 1873. 4.º de XXVII-167 pag. e mais 7 innumeradas, sendo a ultima desdobravel.

7689) Ensaio critico sobre o catalogo da livraria de musica de el-rei D. João IV. Ibi, na mesma imp., 1873. 4.º de XV-102-VII pag. e mais 5 innumeradas de errata, lista de assignantes, etc.

7690) Albrecht Dürer e a sua influencia na peninsula. Ibi, na mesma imp., 1877. 4.º de XX-170 pag.

7691) Francisco de Hollanda. (Contém: «Da fabrica que fallece à cidade de Lisboa»; «Da sciencia do desenho».) Ibi, na mesma typ., 1879. 4.º de XVIII-XXXIX-23-XVII pag. e mais 2 innumeradas de indice e errata.

7692) Goësiana. (Comprehende: «O retrato de Albrecht Dürer, com duas photographias»; «A bibliographia»; «As cartas latinas, edição critica, contendo o duplo da edição de 1544»; «As variantes (operum omnium»). Ibi, 1879-1881 (Quatro fasciculos.)

Estes trabalhos constituem os n.os 1, 3, 4, 6, 7, 8, 9 e 10 da Archeologia artistica, e estavam annunciados para saírem mais os seguintes n.os do mesmo auctor:

7693) Damião de Goes e o seculo XVI. Monographia.

7694) A viagem de Jehan Van Eyck a Portugal. Estudo comparado das relações manuscriptas de Bruxellas e de París com a impressão integral.

7695) Cartas de Nicolau Clenardo (Cleynaerts) 1495-1542 e seu circulo litterario.

7696) Francisco de Hollanda. (Contendo: «Da pintura antiga. Livro XI, II»; «Do tirar pelo natural»). Edição critica, com um estudo sobre a sua vida e obras.

Os n.os 2 e 5 da parte impressa e publicada d'esta serie pertencem: ao sr. Tito de Noronha, que escreveu a respeito da Imprensa portugueza no seculo XVI (Ordenações do reino); e ao sr. E. Hübner, professor em Berlim, que escreveu ácerca da Citania. O n.º 5 teve por excepção uma tiragem de 150 exemplares.

7697) Cartas curiosas do abbade Antonio da Costa. Annotadas e precedidas de um ensaio biographico por Joaquim de Vasconcellos. Porto, na imp. Litterario-commercial, 1879. 8.º de XXVI-80 pag. e mais 22 de notas. — V. no artigo Joaquim Theophilo Braga o n.° 7661 (1).

O sr. Joaquim de Vasconcellos foi um dos fundadores da Revista da sociedade de instrucção do Porto, em cuja creação tivera igualmente parte importante, e ahi se encontram numerosos artigos seus, uns originaes e outros traduzidos, e entre os de que tomei nota mencionarei estes:

7698) O ensino primario e a aprendizagem nas officinas. Traduzido da obra de G. Salicis. — Em o n.º 1 do primeiro anno, pag. 16; n.º 2, pag. 63; n.° 3, pag. 101; n.º 4, pag. 125; n.º 11, pag. 357; n.º 12, pag. 380.

7699) A nova reforma das academias de bellas artes. — Em o n.º 5, pag. 147.

7700) A miseria dos professores de instrucção primaria. — Em o n.º 2, pag. 77; e n.º 12, pag. 400.

7701) Portugal no estrangeiro (Revistas). — Começaram em o n.º 3, pag.107 e continuaram em os numeros seguintes do 1.°, 2.º e 3.º annos (1881-1882-1883).

O sr. Joaquim de Vasconcellos tomou parte activa na creação da sociedade camoniana; e, com o sr. Tito de Noronha, compoz a bibliographia camoniana da commissão dos festejos do palacio de crystal portuense, de que foi um dos membros mais enthusiastas.

Tem collaborado, entre outras folhas, na Actualidade, onde publicou uma serie de folhetins de critica; na Renascença, onde sustentou uma controversia com o dr. A. Filippe Simões (prematuramente roubado á sciencia e ás letras); no Jornal do commercio, no Ensino, folha pedagogica do collegio do sr. Patricio Ferreira (1878), no Plutarcho portuguez, no Commercio do Porto, etc. N'este jornal tem varias series de artigos ácerca de assumptos artisticos e industriaes. Uma d'essas series intitula-se:

7702) Exposição de ourivesaria e joalheria nacional. — V. Commercio do Porto, do 1.º de novembro de 1883, e seguintes.

Com o sr. Manuel Maria Rodrigues, talentoso collaborador do Commercio do Porto, redigiu a revista Arte portugueza, que comprehende sómente 12 numeros, com estampas, impressos no Porto, na typ. Occidental. Esta revista era orgão do centro artistico portuense.

Foi ultimamente nomeado professor de allemão no lyceu do Porto, membro do jury de exames secundarios, e conservador do museu industrial da mesma cidade (2).

 

(1) Das Cartas curiosas do abbade Costa (n.o 7697), (segundo me informam do Porto), fizeram-se duas edições, uma completa de muitos poucos exemplares, e a outra com a suppressão de alguns paragraphos, cuja vulgarisação o editor julgou inconveniente. Não conheço, nem uma, nem outra edição, por isso não posso indicar as respectivas differenças.

(2) Acresce ao mencionado:

8974) O conde de Raczynski. — Edição nitida e luxuosa numerada, e de muito poucos exemplares, saída dos prélos da imp. Portugueza por occasião da morte do illustre auctor do Dictionnaire historique-artistique du Portugal.

8975) Cartas de Ribeiro Sanches. — Tiragem especial de 100 exemplares, dos quaes (na data em que me honraram com esta informação, abril de 1885) ainda não tinha distribuido nenhum.

Publicou, sob o titulo de Bibliotheca da arte portugueza, e como complemento da Archeologia artistica (n.os 7688 a 7696) um volume do sr. Rodrigo Vicente de Almeida com documentos para a Historia da arte.

Tem em adiantada impressão o Catalogo da livraria de musica de el-rei D. João IV. (V. o artigo João Augusto da Graça Barreto, no tomo X, pag. 165.)

Collaborou na obra de Fétis, dando para ella apontamentos que respeitam a musicos portuguezes. (V. o artigo Joaquim José Marques, n'este tomo, pag. 88.)

Foi secretario da sociedade de instrucção do Porto, redactor unico dos dois primeiros volumes da Revista da mesma sociedade; e presidente do centro artistico portuense.

Recortes

-